A obra foi escrita por Caio Fernando Abreu e explora dramática e metaforicamente o estigma do hiv/aids.
Caio Fernando Abreu, Luís Artur Nunes e Marcos Breda foram muito amigos. Caio e Luís Artur conquistaram o Prêmio Molière com a peça “A Maldição do Vale Negro”.
Breda e Luis Artur montaram, há 20 anos, quando Caio ainda era vivo, o último texto desse grande autor brasileiro: “O Homem e a Mancha”. Caio não viu a peça pronta. Faleceu em fevereiro de 1996 e a montagem estreou em novembro daquele ano.
A estreia do monólogo ocorreu no Theatro São Pedro, em Porto Alegre/RS, com o mesmo ator. Na peça, ele interpreta vários papéis, dentre eles um ator que busca um personagem, uma pessoa obcecada com uma mancha em sua pele e também Dom Quixote, com toda sua melancolia.
Existe uma clara correlação entre a Mancha tão citada no texto com o sarcoma de Kaposi. Há ainda uma fala que explícita o impacto da aids sobre a sociedade:
"HOMEM (Olhando a própria pele, horrorizado.) - Ah, não... Na minha própria pele, não. Por piedade, Senhor, poupai-me. Já se foram tantos, já se foram quase todos. Eu devo ser um dos últimos. Eu tenho que resistir. Dai-me forças e dai-me fé, meu Deus. (Benzendo-se) Oh, puríssimo Anjo Rafael, curador divino das feridas humanas, ver-te em minhas veias o líquido sagrado de tua ânfora dourada para purificar meu sangue!"
Como o próprio texto de CFA em seus contos e romances, aqui também temos um resultado não linear, que quebra paradigmas tradicionais da narrativa teatral.
Por exemplo, é um texto em prosa com tom dramático ou um texto dramático com peso lírico? Há uma crise do drama e da narrativa. Isso mostra uma contemporaneidade, uma falta de identidade, de rosto, de intenção, ficando muitas vezes na vontade. Ao mesmo tempo, uma certa melancolia, pois em vários momentos os personagens remetem sua fala ao passado.
Segue o link da primeira parte, sendo que as demais estão no mesmo canal.